O sol que sorriu? Estás a ver?
A companhia que fizemos. Um ao outro. Tudo o que passou. O que não mais virá. Estás a ver?
O passeio que podia ter dado. As pessoas que teria encontrado.
A mão que podia ter sido dada. Não foi. O tráfico de influências é condenável. Mesmo quando sabemos estar nas nossas mãos ajudar quem não tem mais nada. mais sítio onde ir. Mais olhos a quem implorar.
Estás a ver?
A miséria que te passa ao lado. Que sabes estar ali. Que não queres ver. Porque és muito sensível. Também será sensível? A miséria? À ignorância?
Desci as escadas. Olhei em volta. Como quem procura. O que sei nunca lá ter estado.
Olhei em volta. Na certeza de que o que desejamos esquecer acaba por desaparecer.
Gritei o que o fôlego me permitiu. Gritei. Porque sim.
Porque não era este sítio. Nesta hora. Neste momento. Desta forma. Que queria estar.
Estás a ver? A vida a correr. Já não passa. Simplesmente. Deixou-se disso.
Passou por mim. Por todos quantos estávamos aqui. Sem nos olhar. Sem querer saber o que pensaríamos.
Pasou como se de uma rajada de vento se tratasse. Passou.
Lembrei-me. De repente. Foi a rajada.
Se não quero estar aqui. Porque não vou embora?
Para um outro sítio? Um outro eu? O futuro que quero? Que é o meu?
Está a ver?
Atravessei o rio. A nado. Olhei nos olhos. Que se recusaram aceitar-me.
Do nada faz-se o tudo que somos nós. Poque não queremos desistir. Porque baixar os braços é morrer. Porque a vida pode não andar. Mas somos nós que não a acompanhamos.
Tás a ver ? A vida como ela é...